Era com um simples acenar de "olá", de "bem-vindo" ou de "adeus" que O Senhor do Adeus, como era vulgarmente conhecido João Manuel Serra, se apresentava diariamente a quem por ele passava.
Esta semana, a vida de muitos cidadãos ficou mais pobre. Há menos um adeus na cidade Lisboa. Para alguns, talvez o único.
Presença assídua ali para os lados do Saldanha, junto à ligação com a Avenida Fontes Pereira de Melo, acenava sem parar, sem nunca se importar se esse mesmo acenar era por outros encarado como acto tresloucado ou de provocação - porque não o era. "O Senhor do Adeus" limitava-se a dizer adeus, num gesto amistoso, como que desejando uma boa viagem e uma boa noite ao desconhecido.
Bem penteado e bem parecido, de tom quase aristocrático, diz, quem o conhecia, que esta actividade lhe servia para combater algumas horas de tédio e de solidão.
Na rua acenava às pessoas e na rua conheceu alguns amigos. Dois deles, tal como ele, amantes do cinema, partilhavam com João Manuel Serra o blog O Senhor do Adeus, um blog dedicado à crítica cinematográfica, a crítica que faziam após cada domingo que passavam na sala de cinema.
Com o sonho de ter sido actor, chegou a entrar em, pelo menos, dois filmes. Restou-lhe depois o prazer e a dignidade de ter sido figurante e, porque não, um dos principais actores da noite de Lisboa.
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