quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Aqui jaz, em hora de almoço, Manuela.

A Assembleia da República e, mais especificamente, o debate do Orçamento do Estado, chegaram na manhã de hoje a níveis insustentáveis de servilismo e de deboche. As grandes decisões do país estão, por agora, entregues a um sem número de semi-stand up comedians que se esquivam de toda e qualquer resposta, a toda e qualquer pergunta, durante todo e qualquer debate.

A regra é: não perguntes que eu não respondo, porque se perguntares eu vou fazer de tudo para não responder, porque o debate não serve para perguntas e respostas, serve antes uns e outros, na sua grandiloquência de discurso que, de tão vazio, chega a ser balofo e gorduroso. Balofo, gordo, ocupando um espaço enorme, deixando o ar irrespirável. Cheio de gordura, numa transpiração toda ela sebosa.

Por dentro, tudo está à vista de todos. Das tentativas de trocadilhos às inaceitáveis metáforas de baixa estirpe, passando por recados moralistas para o núcleo familiar de alguns deputados, até aos risos e sorrisos de outros tantos que, de função, apenas têm a de estarem de boca fechada, fato aprumado e aspecto papel de parede fosco, existindo apenas como quem passa com uma vil imunidade por entre os pingos da chuva.

Até ao momento em que, em manhã de denso nevoeiro, surge, a cavalo de uma assinatura gravada via telemóvel, alguém que, jogando por duas das equipas, representando dois dos maiores ajuntamentos, traz consigo a bandeira do carácter e da moral, pelo mais profundo interesse nacional. No entanto, e causando alguma estranheza, Manuela Ferreira Leite aparenta não se encontrar em nenhum dos lados da trincheira, teimando em querer representar o zelo pela estabilidade e responsabilidade no discurso político, ao mesmo tempo que atira mais lama para este imenso lamaçal.

MFL defende-se, para uns, dizendo que não há solução que não passe por este Orçamento. Para outros, refere que não há solução. Ponto. Que não há solução, porque tudo depende dos mercados externos e dos seus bons ou maus humores, mas que, mesmo assim, é preciso seguir cegamente este feto de Orçamento, numa caminhada que urge ser feita, pese embora a sua escassa probabilidade de sucesso.
Quando questionada sobre os lucros da banca e da baixa de impostos, que resultou num aumento desses mesmos lucros, MFL não responde, preferindo, ao invés, soltar dois ou três dichotes - numa tentativa de piadas avulsas que nem sequer chegam a sê-lo -, baixando o nível do debate, ao contrário daquilo que, há poucos meses atrás, se dizia ser contra: a falta de seriedade e de conteúdo no debate político.
É caso para dizer: "Até tu Manela, até tu Manela... E pensar que essa fatiota bafienta ainda conseguia enganar alguém, trazendo com todos os cinzentismos a aura da seriedade..."

Tudo porque, concordando-se ou não com MFL, esta tinha, até ao final da manhã de hoje, o peso de ser vista enquanto um dos últimos baluartes do que se entendia por seriedade e utilidade no debate político dentro dos dois partidos do poder. Tinha. Mas parece tê-la comido, ao almoço, enquanto deixa, para outros, toda uma indigestão.